Um belo dia eu estava agachada ao pé de uma árvore quando um batalhão de formigas me cercou. Eram consideravelmente maiores que as formigas que eu havia visto até então, e de uma tonalidade diferente. Negras como a ponta de um lápis. Embora usassem capacetes, tinham aspecto amigável. Prova disso foi que a Comandante da tropa deu ordem para que fizessem uma pausa. Obedeceram no ato. Então a Comandante equilibrou-se nas patas traseiras, apoiou as mãos na cintura e olhou bem nos meus olhos. Mediu-me da cabeça aos pés.

“Oi”, eu disse.

“Oi”, elas responderam em conjunto.

A comandante ergueu a pata direita, sinalizando que ia falar:

“Você pode vir conosco, se quiser.”

A formiga parada ao lado da comandante fez que sim com a cabeça.

“Tá bom”, respondi.

Elas refizeram a fila e eu me enfiei no meio. Claro que eu estava achando tudo aquilo extremamente emocionante. Nunca, nem nos meus momentos mais delirantes, eu achava que algum dia eu teria a oportunidade de me infiltrar num formigueiro de verdade, sem ser metafórico. Mas rapidamente eu percebi algo importantíssimo. Se eu começasse a me achar “a gostosa”, o feitiço acabaria. É comum para os habitantes da floresta se metamorfosearem em animais, e eu não devia ficar me vangloriando por ter recebido o mesmo privilégio. Afinal, eu era uma formiguinha no meio de bilhões.

Modificado pela ultima vez: 26 de outubro de 2014

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Comentários

Demorei a aparecer, mas tô gostando bastante dessa migração do campo para a floresta, de gente se transformando em bicho. Deve ter sido incrível essa viagem. Muito melhor seguir as formigas que se sentir num formigueiro (este sim metafórico). Inveja! Abraços!

Índigo, vc é muito boa cara (com todo o respeito)… Vc já escreveu algum em terceira pessoa? Abraços!

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