Formigas
Um belo dia eu estava agachada ao pé de uma árvore quando um batalhão de formigas me cercou. Eram consideravelmente maiores que as formigas que eu havia visto até então, e de uma tonalidade diferente. Negras como a ponta de um lápis. Embora usassem capacetes, tinham aspecto amigável. Prova disso foi que a Comandante da tropa deu ordem para que fizessem uma pausa. Obedeceram no ato. Então a Comandante equilibrou-se nas patas traseiras, apoiou as mãos na cintura e olhou bem nos meus olhos. Mediu-me da cabeça aos pés.
“Oi”, eu disse.
“Oi”, elas responderam em conjunto.
A comandante ergueu a pata direita, sinalizando que ia falar:
“Você pode vir conosco, se quiser.”
A formiga parada ao lado da comandante fez que sim com a cabeça.
“Tá bom”, respondi.
Elas refizeram a fila e eu me enfiei no meio. Claro que eu estava achando tudo aquilo extremamente emocionante. Nunca, nem nos meus momentos mais delirantes, eu achava que algum dia eu teria a oportunidade de me infiltrar num formigueiro de verdade, sem ser metafórico. Mas rapidamente eu percebi algo importantíssimo. Se eu começasse a me achar “a gostosa”, o feitiço acabaria. É comum para os habitantes da floresta se metamorfosearem em animais, e eu não devia ficar me vangloriando por ter recebido o mesmo privilégio. Afinal, eu era uma formiguinha no meio de bilhões.
3 comentários
Demorei a aparecer, mas tô gostando bastante dessa migração do campo para a floresta, de gente se transformando em bicho. Deve ter sido incrível essa viagem. Muito melhor seguir as formigas que se sentir num formigueiro (este sim metafórico). Inveja! Abraços!
Legal que vc apareceu! Volte mais vezes. bjo
Índigo, vc é muito boa cara (com todo o respeito)…
Vc já escreveu algum em terceira pessoa?
Abraços!