Contos do corpo
Agora que acabou a copa, quero escrever sobre o corpo.
Serão pequenos contos, no velho formato dos 73. Uma fórmula para me obrigar a escrever e me dar um norte na vida.
Vamos ao primeiro:
Minha mãe conta que meu parto foi tranquilo. Foi num domingo. Era final do campeonato brasileiro, e os médicos estavam empolgados com as perspectivas do Corinthians. Minha mãe é que ficou um pouco preocupada, achando que eles deviam se concentrar exclusivamente no que estavam fazendo. Mas eles conseguiam trabalhar e discutir futebol ao mesmo tempo. Somente no momento em que botei a cabeça para fora eles se calaram. Olharam uns para os outros, quietos. Minha mãe conta que a expressão em seus rostos foi pavorosa.
Então ela ouviu:
– Dá pra consertar.
E voltaram a falar sobre o Corinthians.
O jogo ia começar dentro de vinte minutos. O médico me entregou para a minha mãe e explicou que só precisava massagear um pouquinho a cada dia, e a ponta ia desaparecer.
– Eu te mostro.
Pegou uma espátula e massageou o topo da minha cabeça.
De acordo com o que minha mãe conta, tinha formato de ovo. Um ovo perfeito. Ela seguiu as instruções do médico e foi arredondando um pouquinho a cada dia até alcançar o formato padrão. Só então autorizou que tirassem fotos