Entrevista com Mimosa, a garota da capa
Na semana passada um leitor me perguntou sobre a vaca na capa de “Saga animal.” Se você leu o livro, certamente percebeu que Ígor não leva nenhuma vaca para casa (isso não é spoiler). No entanto, lá está ela, com grande destaque na capa, toda poderosa. Quem é ela? Por que merece tanta atenção enquanto outros bichos, muito mais importantes para o enredo do livro, ficaram em segundo plano? Essas são algumas das perguntas que faremos hoje para Mimosa, a garota da capa.
Pergunta: Olá, Mimosa. Vou direto ao ponto. Qual o motivo de você ter aparecido na capa de “Saga animal”?
R: Porque eu sou uma vaca. Sou linda, gostosa, tenho estilo e fotografo bem.
Pergunta: Sim, nós sabemos disso. Mas você não é exatamente um dos personagens principais e nem mesmo coadjuvantes do livro.
R: Eu apareço no capítulo em que Seu Barba conta a história da sua vida e volta aos tempos em que era menino e morava numa fazenda. Sou uma lembrança do passado dele. Uma lembrança nostálgica e romântica, de uma época em que ele tinha uma relação diferente com os bichos. Antes de ele ter se tornado o dono de uma loja de animais exóticos. Na visão dele, fui uma figura quase maternal.
Pergunta: Você está querendo me dizer que você foi a mãe do Seu Barba? Num sentido figurativo?
R: Acredito que sim. Em algum nível inconsciente, acho que que ele me via como uma segunda mãe. Ele era um garoto muito querido. Por ser o caçula e temporão, vivia mais com os bichos que com seus irmãos. Ele conversava comigo, pedia conselhos. Às vezes ele chorava sem motivo e se aninhava em mim.
Pergunta: Você acredita que Ígor ficou com vontade de ter uma vaca, após ter ouvido a história do passado do Seu Barba?
R: Acredito que toda criança, no fundo, deseja ter uma vaca. Não um cachorro ou um gato, mas uma vaca. É um desejo absurdo, considerando as moradias atuais, apartamentos, elevador, trânsito, as portas estreitas demais, enfim.
Pergunta: Será que não seria mais legal ter um cavalo?
R: Você só está perguntando isso porque nunca teve cavalo. Não, não seria. Um cavalo não vai te dar atenção, não vai ouvir suas lamentações e te confortar nos dias difíceis. Ele não vai te ajudar com lição de casa e nem te oferecer um colinho.
Pergunta: Se você soubesse escrever, o que teria feito de diferente em “Saga animal”?
R: Teria feito com que todos os personagens humanos tivessem uma tomada de consciência e se tornassem veganos, a começar pelo Seu Barba. A mãe do Ígor faria um curso de culinária e se tornaria uma cozinheira de mão-cheia. Ígor começaria a vender bolos veganos na escola. Seria um sucesso total. Em seguida, a escola toda se tornaria vegana. Todos deixariam de consumir leite e queijo, e carne, naturalmente – que é criminoso, a meu ver. Todos terminariam felizes e dançando, que nem nos desenhos animados. Eu voltaria do passado, e assumiria a narrativa do livro. A história do Ígor podia acabar no capítulo dos escargots. Desse ponto em diante eu ia desenvolver – num estilo narrador onisciente – todas essas questões.
Pergunta: Minosa, muito obrigada pela entrevista. Acho que podemos parar por aqui. Agradeço suas sugestões.
R: Eu é que agradeço a oportunidade de me expressar, e mande um beijão para o aluno que perguntou a meu respeito.