A musiquinha grudou feito um chiclete no meu cérebro. A formiguinha corta a folha e carrega. Quando uma larga, a outra pega. Veja que mistério curioso, a formiguinha ensinando o preguiçoso.

Uma letra aparentemente simples, mas que fala sobre a coletividade. Na minha vida pregressa, de escritora, eu nunca tinha vivido a experiência de ser uma pecinha em meio a uma engrenagem. Como escritora eu vivia isolada numa chácara, trabalhando nos meus livros. Minha interação profissional com o resto do mundo se limitava a troca de emails com meus editores, sendo que isso acontecia uma vez por mês e olhe lá. Achei fascinante descobrir que eu podia contribuir para uma obra conjunta, que minhas funções eram idênticas as de todo mundo. Eu era capaz de assumir a função a partir do ponto em que a companheira havia largado ou então podia largar o batente sabendo que alguém retomaria o meu trabalho, fazendo exatamente o que eu teria feito. Poder me livrar do fardo do trabalho autoral, que dependia exclusivamente de mim, foi a maior sensação de liberdade possível. Entre as formigas eu me sentia amparada e leve. Dava gosto de trabalhar. Fiquei muito apegada a elas. Imagine encontrar um bando de companheiras nas quais você tem confiança total! Tínhamos as mesmíssimas habilidades. No mundo dos humanos eu nunca havia presenciado algo assim. Nunca.

Modificado pela ultima vez: 26 de outubro de 2014

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Comentários

índigo, no começo de sua carreira como escritora, vc escrevia diariamente?Como vc ia descobrindo seu estilo? Bjos, PS:vc é uma das escritoras referenciais.Digo que vc está ao lado de Rachel de Queiróz ,Clarice Lispector e Lygia Fagundes Telles.

    Oi, Rafael – Sim, escrevia diariamente, menos nos fins de semana. Eu descobria meu estilo escrevendo. Acho que não tem outro jeito. Tb adoro a Lygia. Ela tb é uma referência para mim. beijos

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