Eu, formiga
Retomando o relato da minha temporada entre as formigas…
Ao contrário do que eu imaginava, elas não estavam voltando para casa, mas a caminho do trabalho. Caminhamos durante muito, muito tempo, até que chegamos num pomar. Apesar da diferença dimensional, reconheci o local. Alguns dias antes eu havia conhecido o jardineiro responsável, um fulano simpático e muito orgulhoso do seu empreendimento. Cultivar frutíferas no meio da floresta demanda conhecimento e vários cuidados especiais. As formigas, pelo jeito, também conheciam bem o lugar. Segui em meio ao bando, copiando os movimentos das minhas companheiras. Enquanto trabalhávamos, cantávamos uma musiquinha que dizia assim: A formiguinha corta a folha e carrega. Quando uma larga a outra pega. Veja que mistério curioso, a formiguinha ensinando o preguiçoso.
Ao final do dia havíamos pelado um pé de acerola. Até o talo. Acho que fizemos umas vinte viagens de ida e volta até o formigueiro. Largávamos as folhas na entrada e voltávamos para buscar mais. Um segundo batalhão de formigas se encarregava da viagem subterrânea. Nunca me senti tão forte e poderosa. Eu carregava folhas do tamanho de uma caravela, nas costas, e nem por isso me cansava. Ia cantando, acompanhando a trilha, feliz por poder ajudar. Sou virginiana. Gosto de me sentir útil.