A freira
Morgana fechou os olhos e puxou pela última imagem gravada em sua memória. Visualizou perfeitamente sua antiga pupila, já em idade avançada, no convento em Campos do Jordão.
É a de hábito azul e casaquinho preto. Nascida em 1938, era uma médium poderosa. Tinha visões e ouvia vozes. Morgana, como não podia deixar de ser, tentou angariar a menina para debaixo da sua asa. Seu nome era Bernadete. Depois que botou o hábito, passou a ser Irmã Catarina.
Com oito anos de idade, Bernadete enfrentava uma dúvida cruel. Seguir sua vocação ou dar ouvidos à bruxa que aparecia na janela do seu quarto nas noites de lua cheia? Morgana foi astuta. Argumentou que a vida como aprendiz de bruxa não seria tão diferente da vida no convento. Na floresta ela também viveria reclusa e teria de estudar. Como bruxa ela também dedicaria sua vida aos outros. Teria de renunciar bens materiais, casamento, filhos. A diferença era sutil. Bernadete via vantagens e desvantagens. A maior desvantagem era o medo de estar caindo no papo do vigário. O sacerdócio era um caminho conhecido e digno. Mas quem era Morgana? De onde vinha? Para onde a levaria? A proposta da bruxa lhe pareceu altamente suspeita, e ao completar 15 anos, fez sua opção. Entrou para o convento. No entanto, implorou a Morgana para que não a abandonasse por conta disso. Morgana concordou. Afinal, Bernadete ainda era bastante jovem e poderia mudar de ideia. Durante anos Morgana a acompanhou, esperando pelo dia em que Irmã Catarina enveredasse para caminhos mais aventurosos. Infelizmente isso nunca aconteceu. Foi uma freirinha feliz, conforme podemos ver na foto.