A primeira criatura no primeiro dia
Hoje eu retomo a escrita deste blog. Devo estar um pouco enferrujada, então peço que compreendam. Muitas coisas para contar. Aos poucos eu conto os últimos acontecimentos, tim tim por tim tim. Aliás, a minha nova proposta para esse blog, em 2017, é menos ficção e mais narrativa da vida como ela é. Não sei se vou conseguir, porque sei da minha tendência de escorregar para a ficção. Mas, se acontecer, será uma ficção verdadeira.
Então vamos ao que importa. Por que estou aqui, de onde vim, para onde vou.
Começando pelo começo, no dia 27 de agosto eu me mudei. Agora moro num lugar que teoricamente seria um sítio. Não é um sítio. É diferente. Eu ainda estou tentando entender onde vim parar. Ok, aqui dou um exemplo prático que ajuda, e é sobre isso que eu pretendia escrever, para post inaugural da minha volta ao blog.
A primeira criatura do primeiro dia.
Nesse novo lugar onde vim morar, consegui montar meu escritório numa construção separada da casa. É um chalezinho que parece uma casa de gnomo. Na segunda-feira passada foi meu primeiro dia aqui. Cheguei com minha vassoura de piaçava, logo cedo, e varri tudinho antes de começar a trabalhar. Nessas, varri uma cobra. Dei um pulo para um lado, ela para o outro, e ficamos cara a cara. Era pequena, uns cinquenta centímetros. Um bebê. Olhei mais de perto e vi que era filhote de jararaca. Chamei o marido (o meu). Ele veio, olhou e com a voz mais doce do mundo, diz:
– Ahhhhh… uma jararaquinha. Vem cá. Vem com o tio, vem.
Jararaquinha. No diminutivo.
Eu fiquei afastada uns bons metros, só olhando. Depois de oito anos morando em sítios, já perdi o medo de praticamente tudo, mas cobra ainda é um problema para mim. Até a jararaquinha. Claro que me assustei, e foi tenso ter de iça-la com um pedaço de ferro e conduzi-la até o mato, mas dessa vez fiquei sensibilizada com a visita. Pelo tamanho e comportamento, posso afirmar que foi a primeira vez que ela teve contato com um ser humano. Essas coisas a gente simplesmente sabe. Também concluí que ela deve ter nascido depois que me mudei para cá.
Ela reagia a nós de um jeito tão gracioso. Embora estivesse brava e agressiva, dando pequenos botes, tinha um jeito espevitado, de pré-adolescente. Fazia aquele movimento incrível em que elas simulam um choque elétrico, vibram o corpo inteirinho e soltam um tssss. Tão miúda e tão ciente do seu potencial. Impossível não se identificar. Então nós conversamos com ela. Explicamos que enquanto ela estiver aqui, ninguém vai lhe fazer mal. Ela, em compensação, precisa saber que não tem permissão para entrar no chalé. Ela entendeu. Depois disso eu botei um rodapé de borracha no vão da porta e achei que seria uma boa oportunidade para voltar ao blog. Não tirei fotos por causa da questão da alma. Ela era tão divinal que seria errado capturar a imagem dela e jogar aqui, na rede, deixando-a congelada no tempo digital. Ela está viva e solta na natureza. Nunca mais a vi, o que não significa que ela não esteja me vendo…
18 comentários
Índigo, muito bom! Já que começou com bicho, conta como está a gata?
Adorei!
Olá, Marquinhos, Flor. Só agora vi esse comentário. Tanta coisa já aconteceu desde então… beijos
Adorei! Fala da gata.
Oi, Marquinhos. Ótima ideia! Vou falar. É uma história e tanto. Valentina merece.
Amo o que você escreve. Tudo uma delícia!
Valeu, Francisca.
Já gostei !
Do local que será escrito
Do personagem! Jararaquinha…
Quando a artista contará suas versões !
O BLOG mais exitante do ANO começando….
Beth, querida. OBRIGADA! Saudades de vc. beijos
Indigo, vc é muito divertida! Quem diria que aquela menininha frágil e tímida que conheci se transformaria nessa eterna criança em ebulição!?! Nunca sei se o que escreve é verdade ou imaginação. Será que a jararaquinha existe mesmo? Continuo te seguindo…sou sua fã. Bjs e sucesso.
Edmea, querida. Obrigada. Menininha frágil e tímida?! Engraçado perceber a imagem que temos de nós mesmos e a imagem que passamos para o mundo. Mas consigo entender de onde vem isso. Eu, se estivesse fora de mim, pensaria a mesma coisa. E obrigada por me seguir. Seus comentários sempre me inspiram. beijo
Que surpresa deliciosa poder te ler agora de manhã. Outro dia me lembrei com saudades das vezes emque nos encontramos . beijos
OI, Angela! Que surpresa boa te ver por aqui! Gostei. Foi tão boa aquela nossa conversa na cozinha, né? Boas risadas. Precisamos nos encontrar de novo. Planos de vir pra São Paulo? bjo
Ei, Índigo! Adoro imaginar as cenas que você descreve. Em seu antigo blog, todo dia, dava uma passadinha por lá para saber o que você estava aprontando. Agora, morando nessa casa misteriosa, cercada de natureza e energias cósmicas, tenho certeza de que histórias ainda mais incríveis surgirão dessa mente azul brilhante! Obrigado pelo carinho que tem com seus leitores! Mais e mais sucesso! Você é fofa! 😉 Um beijãoooO!!!
Oi, Pedro! Que assim seja. E eu agradeço pelo “fofa”. Não é todo dia que a gente ouve isso. beijos
Eba. Que bom que você voltou. Coincidência ou não, dia desses estava lendo você. E procurando se você tinha Instagram (rs). Você tem?
Oi, Gláucia. Não tenho. Só por aqui mesmo. beijinhos
Puxa, que delicia voltar a te ler. Alias, mero acaso, pois estou sem celular (bateria no finzinho e o cabo ficou no escritorio). Entao acabo de ler teu blog pelo tablet, coisa rara lidar com ele. Enfim, esse mero acaso acabou de se tornar um acaso feliz. Bjs
Oi, Elena! Adorei te ver por aqui. Que surpresa boa. bjo