As pupilas de Morgana
Enquanto isso Morgana passeava pela floresta colhendo folhas de diferentes cores, texturas e formatos. Ela estava aprendendo a desenhar. Como por ali não havia escola de desenho, teria de aprender sozinha. Escolheu para professor ninguém menos que Deus. A técnica era bem simples: observar e copiar. Depois de juntar uma pilha de folhas, sentou-se num canto sombreado, apoiou as costas no tronco de uma árvore e se pôs a reproduzir o traçado das folhas num caderno.
Seu pensamento ia longe. Pensava na sua hóspede trancafiada no armário de vassouras. Seu nome era Ana Cristina. Morgana se lembrava direitinho de quando Ana Cristina era criança, morava com os pais e tinha medo de escuro. Estava feliz por ter reencontrado uma velha pupila. Isso era raríssimo. Nos seus trezentos e cinquenta anos de idade, acontecera apenas duas vezes. Da primeira vez, a ex-pupila já era uma senhorinha viúva que morava num sobrado em Pirinópolis. Uma talentosa artesã cuja especialidade eram bonecas de palha. A outra tinha virado freira. Vivia num convento em Campos do Jordão. E agora Ana Cristina, com seu jeito irreverente. Morgana precisava consultar seus diários da época e conferir as anotações sobre essa ex-pupila.
O comum é que, depois de completar nove anos, a menina deixe de acreditar em magia e simplesmente quebre a conexão. Mas no caso dessas três, mesmo depois de adultas, ainda eram capazes de visitar mundos mágicos. Curiosamente, cada uma o fez por um caminho diferente.
