Faça sua busca
  • segredosdeindigo
    @gmail.com

  • @indigo.ayer

  • @indigo_hoje

  • @indigoescritora

  • /
  • Vida
  • /
  • Contos do corpo, 35 – Éguas
Contos do corpo, 35 – Éguas
13 de outubro de 2014
984 visualizações

Contos do corpo, 35 – Éguas

No meio disso tudo, minha avó me deu uma mini-saia de presente. Era branca, rodada e com estampa de melancia.

– Com esses pernões que você tem, vai fazer sucesso – profetizou.

Amei a saia das melancias. Combinava com a regata branca, a preta, a verde e a vermelha. Um modelito fácil de usar, gracioso e que realçava o bronzeado das minhas pernas. Pedreiros, lixeiros, sorveteiros, pipoqueiros, cobradores de ônibus… todos aprovaram. A essa altura eu já tinha entendido que se quisesse sair de perna de fora, pagaria o preço. Eu me perguntava se seria sempre assim ou se num determinado momento eles parariam com os comentários. Claro que eu poderia vestir uma calça jeans e passar batido. Mas eu acreditava no meu direito de não morrer de calor. Além do mais, pernas sempre existiram, sempre existirão. Mostrando o meu par, eu contribuía para que todas as pernas, de todas as meninas, se tornassem uma visão tão banal e corriqueira a ponto de não gerar mais interesse algum.

E assim eu andava pela cidade, tomando ônibus, indo para a escola, para o ballet, para o inglês, aturando os efeitos colaterais enquanto remoía o meu dilema. De que adiantava aquele poderio, se eu não conseguia usá-lo para benefício próprio? Elas me levavam para onde eu bem entendesse. Eram meu corpo diplomático. Chegando ao lugar de destino, facilitavam a entrada, preparavam o ambiente para que eu recebesse o melhor acolhimento possível. Eram boas comigo. Dois cavalos portentosos. O resto cabia a mim. E daí é que eu punha tudo a perder. Eu não estava à altura delas.

Uma timidez medonha tomava conta de mim. Enquanto as duas se exibiam com toda a desenvoltura do mundo, eu abria um livro, mergulhava na narrativa e fugia para bem longe dali. Foi nessa época que comecei a ler “Brumas de Avalon”, onde as feiticeiras usavam vestidos longos, de veludo, com direito a capa esvoaçante e capuz. Podiam vestir o capuz e criar uma cabaninha própria, uma camada protetora adicional para se resguardar ainda mais contra aquele sistema patriarcal nefasto, de Rei Arthur e seu bando.  

Eu invejava as feiticeiras. Elas tinham o dom da invisibilidade. Viviam numa ilha protegida por neblina espessa, acessível apenas às escolhidas, em reclusão. E eu ali, exposta num calor de quarenta graus, na avenida mais movimentada da cidade. Eu com as minhas éguas.


2 comentários

  1. Avatar
    tatiana

    Oi

    Começo a ler e tenho que rir. Pai do céu to imaginando a mini-saia de melancia. Um dia ganhei uma tal mini saia linda e verde(cruel). Porem as pernas brancas e finas espantava toda clientela kkkkk. Quem me dera ter pernas linda…. oxalá já imaginou o sucesso kkkkkk? Espero as cenas dos próximos capítulos.

    1. Avatar

      Há. O melhor de escrever é conhecer as histórias correspondentes. Adoro as suas. beijo da velha amiga, Ì

Deixe seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Já nas livrarias!!!
Já nas livrarias!!!
21 de junho de 2022
Oficina de Escrita Orgânica em Holambra
Livro novo! Já nas livrarias
Livro novo! Já nas livrarias
4 de agosto de 2021
20 anos de estrada!
20 anos de estrada!
8 de junho de 2021
Casinha para degustação
Casinha para degustação
25 de maio de 2021
Avatar
Tamy lazara togojebado gomes em:
Minha dívida com as bruxas
2022-10-06 06:40:15
Avatar
Índigo em:
Oficina de Escrita Orgânica. Venham!
2022-05-25 16:01:12
Avatar
Isadora em:
Oficina de Escrita Orgânica. Venham!
2022-04-27 22:16:04
Avatar
Isadora em:
Oficina de Escrita Orgânica. Venham!
2022-04-27 22:15:49
Avatar
Índigo em:
Casinha para degustação
2021-06-09 10:00:27