Corta “no céu”
E Júpiter testemunhava, do alto do seu trono, todo esse mal. E gemia quando se lembrava das perversas revelações de Liacon, o último culpado. A história ainda desconhecida aos deuses das alturas. Em profunda indignação, convocou a todos para uma assembleia. Nenhum falou.
Facilmente visível quando a noite está clara, a via-láctea brilhava esbranquiçada no céu. Foi por essa estrada que os deuses seguiram na direção do palácio dos Trovões, com suas paredes nobres, e, à direita e à esquerda as moradas dos outros deuses abertas, para receber os hóspedes. Os deuses menores vivem num setor intermediário, em área não restrita como essa. Os ilustres das Carruagens Celestes tomam seus lugares no monte Palatino.
“Liacon quem?” – você deve estar se perguntando. Calma, no próximo capítulo Cícero vai contar A História de Liacon.
Uma pequena crítica. Hoje, dois mil e tantos anos depois, se um revisor pega uma frase como “… a via-láctea brilhava esbranquiçada no céu”, aposto que “no céu” seria limado. Até consigo ouvir o revisor perguntando: “onde mais a via-láctea estaria brilhando?” Isso é redundância, corta. Hoje em dia não pode mais.
E para terminar, um último comentário sobre como a vida não é justa mesmo. Até lá nas alturas, no reino de Júpiter e outros deuses, não tem essa de igualdade. Repare como existem os deuses menores, que moram num quarteirão próprio, tipo no centrão. “Em área não restrita”. Quer apostar quanto que “área não restrita” é um modo elegante de dizer no centrão?