Dragão em ação
Desde que comecei a escrever livros já recebi convite para tudo quanto é tipo de evento. Para conversar com crianças que leram algum livro meu na escola, para dar palestras sobre temas relacionados a literatura infantil, para debates, para entrevistas ao vivo. Sempre me sinto um pouco esquisita. Tudo bem, já escrevi 23 livros. Mas, sinceramente… não acho que isso me dê embasamento para sair falando sobre o assunto. Tenho a impressão que ainda estou tentando entender como é que se faz. Nessa Páscoa, o destino me colocou numa dessas situações abençoadas. Eu estava numa sala, sentada num canto. Num outro canto, dois meninos que nem repararam que eu estava ali. Eles não me conheciam, na verdade. Um deles pega um livro e começa a ler. Por acaso era um livro que eu havia traduzido. Portanto, já havia lido e relido umas cinco vezes. O menino olha a capa, abre e começa a ler. Chama o amigo, “Olha isso, que legal!”. Passa a ler em voz alta, para o amigo. Nesse momento os dois estão em pé. Era para ser uma leiturinha rápida, mas o leitor se empolga. O amigo se senta. Os dois se sentam. Começam a ler juntos. Eles viram a segunda, terceira, quarta, quinta, sexta página. Não largam mais o livro. As outras crianças continuam brincando lá fora. Os dois já não querem mais sair.
E eu fico ali, muito mais embasbacada do que eles, testemunhando em primeira-mão o livro exercitando sua magia. Durante esse tempo todo eu me pergunto: “Em que ponto será que eles vão largar o livro e voltar a brincar lá fora?” Esse momento não chega. Eles viram as páginas sem parar, hipnotizados. Depois de um tempo sou eu que tenho de me retirar, para ir fazer sei lá o que, e fico sem saber como acabou a história. Só sei que levaram o livro embora, e que observando aqueles dois eu me senti como uma espiã nazista. Flagrei, com meus próprios olhos, a mágica de que tanto se fala.
Claro, o livro: “Danny Dragônio”, da Editora Caramelo.