É como um trem
Uma criança me perguntou se é difícil ser escritora. Difícil não é. Basta ter um ego à prova de bala e acreditar que o mundo precisa do seu trabalho. Você não deve parar e questionar a sua produção. Se pensar demais, abandona. Se fica esperando um estímulo externo, abandona. Se esmorecer, por uma semaninha que seja, abandona. O escritor é como um trem, desgovernado. Tudo começa bem, nos trilhos, com o maquinista seguindo uma rota. Tudo direitinho. O problema é que ele vai sair dos trilhos. Vai desembestar feito doido. Você ainda é o maquinista, mas agora está agarrado a uma barra de ferro, rezando para não quebrar a cara no final. Você só vai conseguir sair fora quando o trem rolar pelo penhasco ou bater num paredão de pedra. Daí você desce, tenta disfarçar, arruma os cabelos e admite que concluiu o seu trabalho.
O pior é que dias depois você parte numa outra viagem, num outro trem. Novamente, sem ideia de como ou por que você se mete nessas empreitadas.