Ela lá, eu aqui
Agora estou no meu escritório, tentando descobrir como escrever as histórias da floresta. Enquanto eu estava naquele canto tão remoto do planeta, me sentia constantemente vigiada. A floresta não tirava os olhos de mim. A interação começava às seis da manhã, quando um bando de macacos espalhafatosos passava bem perto do meu quarto, fazendo uma algazarra doida. Eu pulava da rede e, pé ante pé, abria uma frestinha da janela. Todos os dias eu fazia isso, com esperança de vê-los. Segundo os nativos, esses macacos são brancos e não gostam de ser vistos. Por mais que eu quisesse tapeá-los, não dei sorte. No instante que eu espiava, eles se escondiam. Era o nosso jogo.
Depois, quando eu deixava a casa, diferentes tipos de pássaros me davam bom-dia. Borboletas davam o ar da graça e rodopiavam na minha frente, conforme eu andava. As árvores estendiam seus galhos, querendo fazer amizade. E dia a dia eu ia percebendo o quanto tínhamos em comum. Ao final do trigésimo dia, a floresta e eu éramos velhos amigos. Ainda estava lá, cercada por ela, e já sentindo sua falta. Desde que voltei, se olho para frente tudo que vejo é uma tela de computador. Teoricamente eu poderia me comunicar com o mundo inteiro, mas não consigo me animar. Sinto falta da comunicação sem palavras.