Em que Dafne dá no pé
No episódio anterior…
Dafne estava suplicando a seu pai, Peneo, para que ele interferisse a seu favor. Ela não quer se casa com Apolo, nem com ninguém. Ela deseja ser livre e viver nos bosques, feito um bicho do mato. Mas Peneo não cede. Ele acha que um casamento fará muito bem à filha. E a ideia de casá-la com Apolo não é nada má. Por isso Dafne foge. Literalmente. Ela sai correndo pelo bosque, feito um coelho. Apolo corre atrás. É uma caçada. Dafne é rápida e está determinada. Apolo não consegue alcançá-la. Para descrever essa passagem Ovídio menciona o cordeiro que foge do lobo; o cervo do leão; a pomba da águia, e todas as criaturas que devem fugir de seus antagonistas. Elementos chave de uma boa história. A perseguição fica cada vez mais intensa e insana. Apolo pressente que, se Dafne continuar correndo desse jeito, ela vai se ferir. Ele prevê o pior. Ela não vai parar de correr nunca, e vai morrer correndo. É uma corrida desvairada e desesperada. Ele se apavora com essa possibilidade. Dafne, também apavorada, alcança um rio e suplica, de coração:
“Ajuda-me! Se existe algum poder nos rios, que ele transmute e destrua o corpo que despertou tanta adoração!”
Pronto, ela disse. E seu pedido será atendido. Seu pai é ninguém menos que Peneo, deus dos rios. Estamos em “Metamorfoses”. Ela pediu de coração. Ela usou a palavra certa: “Transmute”. Então, sim, o pedido será atendido. No próximo episódio…