Entrevista com Godorico, um cara com manias
Godorico é um desses personagens que surgem em nossa vida para polemizar. Durante a escrita de “Saga animal”, foi ele quem me desafiou a questionar a comercialização de animais exóticos, ou mesmo de animais domésticos. Nessa entrevista ele discorre sobre esse embate entre personagem e autora.
Pergunta: Olá, Godorico, como você está?
R: Suave.
Pergunta: Você se lembra da viagem que fizemos para Pirenópolis?
R: Claro que lembro. Você estava terminando de escrever “Saga animal” e resolveu ir passar uns dias na casa do seu tio Evandro. Levou o livro e mostrou pra ele. Daí ele te deu um puxão de orelha. Bem-feito! Hahahaha.
Pergunta: Você poderia explicar aos nossos leitores o motivo do “puxão de orelha”?
R: Explico, com prazer. Na primeira versão do livro, você inventou uma história muito doida pra mim. Eu escapava do Ígor, fugia pra floresta e nunca mais voltava. Tipo, mundo da fantasia. Seu tio, que é um ambientalista que entende das coisas, achou aquilo um absurdo. Daí ele te explicou que não é assim que as coisas funcionam. Depois que um bicho é retirado do seu habitat natural, e domesticado, como foi o meu caso, ele não consegue voltar pra vida selvagem. Então você teve de mudar todo o final do livro e incluiu aquele capítulo em que eu volto, todo estropiado. Ficou super dramático e sofrido. Teve um lance de redenção, ficou profundo.
Pergunta: O que você acha do comércio de animais silvestres? Pode ser sincero.
R: Como assim: o que eu acho? É crime, mano. Tá doida? Eu sou uma vítima. Você me criou assim. Por acaso você tá querendo acertar as contas comigo, a essa altura do campeonato? Agora não adianta mais. Essa é a minha sina.
Pergunta: Você continua na loja do Seu Barba?
R: Sim. Eu gosto do velho.
Pergunta: Vocês se dão bem?
R: Total. Ele é meu chapa. Eu virei assistente dele na loja. Vivo ocupado. O movimento lá cresceu demais depois que você lançou “Saga animal”. A loja ficou conhecida. O único problema é que todo santo dia entra uma criança sem um tostão no bolso querendo fazer um acordo que nem o do Ígor. Querem levar bichos pra casa pra ver se a mãe aceita. Se não aceita, juram que vão devolver o bicho e trocar por outro. Seu Barba fica doido. Coitado do velho.
Pergunta: Já tentaram te comprar?
R: Muitas vezes. Já ofereceram fortunas pelo meu corpinho. Mas, tô fora. Não vou virar bichinho de estimação nem a pau. Sou mais eu.
Pergunta: Você sente saudades da floresta?
R: Não. Eu vivo o presente. Nem lembro mais da vida na floresta. Faz tanto tempo. Sei lá, nem me sinto tão animal assim. Eu me considero meio gente.
Pergunta: Você pode falar mais sobre isso?
R: É por causa da convivência. Vou incorporando trejeitos dos humanos, pego manias que não são de bicho. Na floresta, meu repertório musical era nulo. Só conhecia a música dos passarinhos. Agora aprendi a mexer no celular do Barba e tô baixando tudo. Descobrindo meu estilo, entende? É uma coisa de humano mesmo, o lance da comunicação através da música. Tô nessa.
Pergunta: Que ótimo, Godorico. Gostei da novidade. Sempre achei que você tinha swing. Fico feliz de saber que você está desenvolvendo seu gosto musical.
R: Pode crer. Qualquer hora você devia fazer um vídeo comigo. Você podia me botar no Youtube. Que tal?
Pergunta: Vou pensar no seu caso. Obrigada pela entrevista. Mande um beijinho pro Barba.
R: Falou, Indi! Fui.
2 comentários
Olá, Indigo!
conheci você na lida de jornalista de cultura, em dez anos mágicos de jornal O Povo, em Fortaleza. Aí, doutora em literatura e amparada pela licenciatura em letras feita nos verdes anos, fiz concurso e agora sou professora de literatura brasileira no curso de letras da UFT (no campus da cidade de Araguaína).
e você, dona moça, está no meu roteiro de literatura contemporânea.
um abraço a 40 graus (aqui ferve).
Eleuda
Oi, Eleuda. Que legal! Agradeço a informação. Nem sempre eu fico sabendo (aliás, raramente). Se precisar de algum SOS, ou colaboração, entre em contato. beijinho (aqui tb está um forno!) Índigo