GRILO ORGIL
Era uma vez, há pouquíssimo tempo atrás, um grilo megaempreendedor chamado Orgil. Ele tinha projetos de horta orgânica, reflorestamento, uma moeda de troca local para incentivar a economia criativa, uma peça de teatro e o esboço de um sistema de captação de energia solar através de embalagens de leite, entre outros. Orgil era do tipo grilo que faz.
No dia em que a Terra parou, Orgil estava no meio de uma discussão acalorada com sua turma de amigos. Ele queria mais foco e produtividade. Ele queria que os amigos grilos entendessem a importância de cada um fazer sua parte. Orgil via grande potencial na sua espécie. Ele se recusava a ser considerado um inseto.
Mas com a paradinha planetária, a coisa mudou. A turma do Orgil achou que essa era a oportunidade perfeita para dizer a real para ele. Fizeram uma live e fecharam o mic do Orgil. Durante duas horas direto, Orgil teve que ficar ouvindo, sem poder dizer um “A”. Orgil precisava entender que bichos grilos não precisam fazer nada. Nadinha de nada. Eles podem viver cantando e comendo as hortaliças que os humanos plantam. Em vez de ficar incentivando os grilos locais a trabalhar, Orgil precisava aceitar sua natureza de bicho grilo sossegadão. De início, Orgil achou a proposta super ofensiva. Teve vários faniquitos. Mas aos poucos foi se permitindo, por algumas horinhas por dia, a não fazer nadinha de nada. E hoje, após quarenta e três dias de quarenta, a vida do Orgil se limita a fazer uns haicais, pintar mandalas e saudar o Sol. Orgil finalmente está aceitando ser o bicho grilo que sempre deveria ter sido. Ele até começou a tricotar umas boinas coloridas.