Morgana sai, eu entro em pânico.
Morgana, do outro lado da porta, gargalhava.
“Você achava o quê? Que só porque cresceu não ia passar uns apuros?! Você está na casa de uma bruxa!”
Eu esmurrava a porta e implorava, pelo amor de Deus, para ela me soltar.
“Não solto! Vai ficar aí, presa. Tchau. Fui.”
Ouvi a porta da frente batendo e Morgana deixou a castanheira. Agora meu coração estava quase saindo pela boca. Fiquei tão apavorada com o que eu tinha acabado de presenciar que perdi todo o discernimento. Encostei as costas contra a porta do armário e comecei a rezar. Bem aos poucos fui me acalmando, até me dar conta de um detalhe importantíssimo. Um detalhe, aliás, que colocava as coisas em perspectiva. Tudo bem, eu estava presa debaixo da terra, mas a criatura que havia falado comigo estava igualmente presa, dentro do vidro de maionese. Ela não podia me atacar. Eu estava me exaltando sem motivo. Juro que tentei afastar a imagem da cobra coral falando comigo, mas ela dominava meus pensamentos. Ela chamava por mim. O que ela tinha dito lá embaixo era sério. Seja lá qual fosse o assunto que desejava conversar comigo, era importante e eu devia descer o quanto antes. Mas eu conseguia? Não, não conseguia. Eu estava paralisada pelo medo.