O período de adaptação
Os primeiros dez dias na floresta foram de adaptação, nada mais que isso. De cara eu tive de me acostumar com a diferença dimensional de tudo à minha volta. Eu nunca tinha encolhido antes, nem sabia que isso era possível. Mas com o passar dos dias descobri que minha nova mini-estatura (12 centímetros) era uma bênção. Era para minha própria segurança. Meu velho corpanzil descoordenado não permitiria que eu caminhasse como os nativos, que têm a habilidade de andar sobre folhas secas e gravetos sem emitir nenhum ruído. Também não conseguiria me locomover no mezanino de uma casa de madeira sem que as pessoas do andar de baixo ouvissem meus passos. Não conseguiria alcançar o tom de voz bem baixinho, quase sussurrado, do povo da floresta. E, principalmente, não conseguiria me aproximar da população de seres rastejantes que povoa o solo. Antes de conseguir olhar para o céu, eu passei um bom período fascinada pela multidão de lacraias e variadas espécies de formiga que iam e vinham por toda parte, numa atividade incessante e suave. As lacraias simplesmente desviavam dos meus pés e seguiam com seus afazeres. Uma ou outra formiga parava e olhava para mim. Coçava a cabeça, me encarava e depois ia embora. Eu acenava um oizinho, mas elas não respondiam. No começo as criaturas da floresta não são de muito papo. Primeiro elas só nos observam, para sacar quem somos e o que estamos fazendo ali.