Relatos de um pombo-correio, parte 2
Com 11 anos de idade comecei a escrever um diário pelo fato de achar difícil demais me expressar através da fala. Aqui, quando digo “me expressar”, significa expor um embrião de pensamento. Com 11 anos a confusão interna é considerável. Eu lia bastante e achava impressionante como escritores conseguem dar uma ordem aos sentimentos, falando deles como se fossem uma substância perfeitamente administrável. Para mim, era tudo uma maçaroca que existia dentro de mim, mas com a qual eu não tinha a menor competência para lidar. Quase um catarro. Nas raras ocasiões em que conseguia botar o troço para fora, era mais nojento que libertador. Enfim, algo que não se mostra por aí.
Com o tempo descobri que o diário era um lindo substituto para o divã. Não que algum dia eu tenha deitado em um. Não consigo. Até considerei, mas não consigo. Aprendi que escrevendo consigo organizar meus pensamentos e encontrar uma lógica para a minha existência (não é pouca coisa).
E foi mais ou menos isso que compartilhei nas rodas de conversas com os moradores de Casa Branco, município vizinho a Brumadinho, onde fica o Córrego do Feijão. Era o que eu tinha a oferecer. Datado? Antigo? Coisa do século passado? Sim. Quem escreve diário hoje em dia? Como isso seria recebido? Sinceramente, não fazia a menor ideia. No entanto, era o que eu tinha para oferecer. Com a esperança de que a ideia pudesse parecer interessante. Falei sobre a Arte de Escrever Diários. Dei algumas dicas sobre o que fazer e o que não fazer, lembrando que não existe regra, que cada um encontra seu jeito particular de fazer o seu. No fim, estávamos falando sobre uma ferramenta de desabafo.
Entreguei os cadernos e voltei para casa com uma sensação diferente. Nunca vou saber no que deu. A escrita de um diário é cercada de segredos e silêncio. Sei que gosto desse clima, e no fundo, intuo que plantei uma ideia instigante.